HAIL SPIRIT NOIR - Fossil Gardens
(Agonia Records)
PRIMEIRAS IMPRESSÕES
Quero começar com uma confissão: Antes de ouvir “Fossil Gardens”, novo disco da grega HAIL SPIRIT NOIR, levei muito tempo em completo silêncio, observando atentamente a belíssima capa deste trabalho, assinada pelo artista George Baramatis. Situada em um fundo cósmico, a figura humanoide parece flutuar em um ambiente alienígena, reforçando a natureza psicodélica e exploratória que a banda trouxe em seus últimos trabalhos. A capa, dominada por tons escuros com destaques vibrantes, e a iluminação etérea criam uma imagem onírica que explora temas de fragilidade, metamorfose e o desconhecido, criando a expectativa perfeita para a audição deste novo trabalho da banda.
Com "Fossil Gardens", a HAIL SPIRIT NOIR retorna ao cenário musical com uma obra que não apenas revive suas raízes black metal, mas também explora novos territórios sonoros com vigor renovado. Este sexto álbum dos veteranos da psicodelia grega marca um retorno ao black metal, mesclando elementos progressivos e texturizados com uma intensidade e energia que haviam se perdido em lançamentos anteriores. O álbum é uma jornada ambiciosa que desafia os ouvintes com sua complexidade e riqueza de camadas sonoras.
O álbum abre com "Starfront Promenade", uma faixa que começa com vocais limpos e sintetizadores espaciais, construindo gradualmente uma intensidade que culmina em um frenesi de padrões de bateria intensos e camadas de guitarra e sintetizadores. Esta abertura não apenas estabelece o tom do álbum, mas também demonstra a habilidade da banda em criar uma atmosfera cósmica que envolve o ouvinte desde o início. A combinação de vocais suaves e momentos explosivos cria um contraste dinâmico que se mantém ao longo do álbum.
Seguindo esta introdução poderosa, "The Temple of Curved Space" oferece uma mistura intrigante de tons suaves e uma abordagem mais agressiva. Esta faixa exemplifica a capacidade da banda de equilibrar elementos contrastantes, combinando riffs pesados com momentos melódicos e sintetizadores que adicionam profundidade à composição. A produção da faixa é impecável, permitindo que cada camada sonora se destaque, desde os riffs de guitarra até os vocais e os elementos de sintetizador.
A faixa central do álbum, "The Road to Awe", é um épico de dez minutos que condensa a ambição e a habilidade da banda em criar músicas grandiosas e dinâmicas. Começando com sintetizadores cósmicos e guitarras em camadas, a faixa evolui para incluir vocais suaves que se transformam em gritos abrasivos e padrões de bateria intensos. A transição vocal em 5:10 é um dos destaques do álbum (aliás, o que o vocalista – e também guitarrista – Theorasis faz neste disco é algo pouco ouvido atualmente), levando a música a um momento mais lento e cheio de cantos, antes de voltar à sua intensidade original. Esta faixa é um exemplo perfeito da abordagem progressiva da banda, combinando elementos de black metal com passagens mais melódicas e complexas. Um verdadeiro deleite!
"Ludwig in Orbit", um interlúdio curioso e agradável, oferece um momento de respiro no meio do álbum, destacando a capacidade da banda de incorporar elementos inesperados e variáveis em sua música. Aqui, a banda questiona como seria o brilhantismo de Ludwig van Beethoven se tivesse todo o conhecimento espacial (e musical) de hoje? Embora esta faixa se desvie das influências black metal mais pesadas, ela contribui para a textura geral do álbum, proporcionando uma singela pausa antes de retorno ao caos sonoro promovido pela banda.
"Curse You, Entropia" é uma faixa que equilibra harmonias de guitarra com um coro em estilo “tarantela” e uma declaração mais calorosa do que o esperado, considerando seu tema. Esta música, juntamente com "The Blue Dot", que apresenta um senso de aventura e corais ressoantes, demonstra a facilidade da banda em criar músicas que são tanto complexas quanto acessíveis, com uma atmosfera de exploração e descoberta.
O álbum fecha com a faixa-título "Fossil Gardens", que resume brilhantemente todos os elementos apresentados anteriormente em uma única música. Esta faixa apresenta a jornada sonora do álbum, combinando os diferentes estilos vocais e riffs contra um fundo de sintetizador, levando o ouvinte a uma viagem final. A música termina com um impacto, deixando uma impressão duradoura com sons de sintetizador inquietantes que ecoam após a última nota.
Vocalmente, "Fossil Gardens" mostra uma evolução e refinamento tanto nos vocais limpos quanto nos gritos abrasivos. Embora os gritos possam ser um pouco desgastantes para alguns ouvintes, eles têm um papel destacado neste álbum, enquanto os vocais limpos, embora menos frequentes, são colocados de maneira eficaz e confiante. Esta combinação de estilos vocais contribui para a dinâmica e a profundidade emocional do álbum.
A produção de "Fossil Gardens" é um dos pontos altos do álbum. A capacidade de capturar cada detalhe dos sintetizadores e guitarras, sem perder a intensidade dos outros elementos, é uma arte refinada. A seção rítmica é apertada e, nas partes mais ambientes, o baixo preenche os espaços, mantendo a intensidade. A produção equilibra habilmente os sons claros e pesados, permitindo que ambos brilhem
VEREDITO
Após algumas audições de "Fossil Gardens", concluo que este disco é uma obra que exige atenção e ponderação, oferecendo uma experiência auditiva rica e multifacetada.
A HAIL SPIRIT NOIR conseguiu criar um álbum que não apenas se destaca em sua discografia, mas também eleva seu som a novos patamares. Com uma produção impecável, composição ambiciosa e execução magistral, "Fossil Gardens" é uma jornada sonora que merece ser explorada por qualquer fã de música progressiva e extrema.
HAIL SPIRIT NOIR provou mais uma vez ser uma banda que não teme inovar e desafiar as expectativas, entregando um álbum que é tanto intrigante quanto gratificante.
(Daniel Aghehost)
9.5/10
TRACK LIST
1. Starfront Promenade
2. The Temple of Curved Space
3. Curse You, Entropia
4. The Blue Dot
5. The Road to Awe
6. Ludwig in Orbit
7. Fossil Gardens