PRIMEIRAS IMPRESSÕES: PALLBEARER - Mind Burns Alive (2024)
Resenhas
Publicado em 02/07/2024

PALLBEARER  - Mind Burns Alive

(Nuclear Blast)

 

 

PRIMEIRAS IMPRESSÕES

Para quem não conhece, a banda PALLBEARER, oriunda do Arkansas, se destaca pela sua fusão única de escolhas harmônicas atonais envoltas em uma atmosfera que mergulha profundamente no doom metal. A combinação de riffs profundos e arrastados com os vocais vulneráveis e crus de Brett Campbell cria uma experiência sonora hipnotizante. Ao longo de sua discografia, a banda mostrou um crescimento significativo, explorando novos territórios melódicos e temáticos, desde o início amador e faminto até alcançar um som mais acessível e mainstream, colocando-a como uma das maiores do estilo.

A base de fãs da PALLBEARER está dividida em relação à preferência por diferentes eras e álbuns da banda. Muitos consideram “Sorrow and Extinction” (2012), o álbum de estreia, como icônico e definidor de gênero. Já outra parcela aponta “Forgotten Days” (2020) como o melhor trabalho da banda até agora. “Mind Burns Alive” (Nuclear Blast), o mais recente lançamento, representa outra mudança significativa, impulsionando-os para uma nova era que muitos consideram a melhor até agora.

“Mind Burns Alive” não é o álbum pesado e carregado de erros intencionais que alguns poderiam esperar. Em vez disso, é uma obra coesa e competente, talvez a mais bem concebida de toda a discografia da banda. Cada música tem uma direção clara e um propósito definido, sem parecer forçada. A banda manteve a essência de seu som característico, mas apresentou-o de uma maneira mais suave e perspicaz. As harmonias dissonantes, que reinventam melodias familiares em tons assombrosos e surpreendentes, continuam sendo uma marca registrada da banda. Este álbum retém essa ideia e a apresenta de forma emocional e expressiva.

Para os fãs de longa data, “Mind Burns Alive” pode parecer uma grande mudança em relação ao que inicialmente os atraiu à banda. Há uma dinâmica de riffs tranquilos e complexos distribuídos por cada faixa, criando uma atmosfera de anseio e desespero. É um álbum emocionalmente carregado, explorando temas de solidão e a disparidade da experiência humana. Segundo o vocalista Brett Campbell, "Essas músicas são uma exploração mais profunda de dinâmicas e cores sônicas do que qualquer coisa que fizemos até agora. Acredito que a verdadeira intensidade vem do peso emocional, e às vezes a brutalidade pura não é a abordagem certa para transmitir um sentimento."

Essa ausência deliberada de brutalidade é evidente desde a primeira faixa, "Where the Light Fades". A música começa de forma delicada e expressiva, evoluindo para algo profundo e impactante. Esta mudança enfatiza a capacidade da banda de ser mais do que apenas um amontoado de riffs pesados e lentos. Mostra uma dinâmica que torna as escolhas mais pesadas ainda mais significativas, demonstrando uma composição inteligente. A construção lenta da música, com a adição gradual de camadas instrumentais e vocais emotivos de Campbell, conduz o ouvinte a um crescendo emocional. As letras falam de uma luta interna, refletindo sobre a perda e a busca por significado. A combinação de melodias melancólicas e a produção rica faz desta faixa uma abertura poderosa e evocativa.

A faixa-título, "Mind Burns Alive", é uma exploração sonora do desespero mental e emocional. Começa com um riff de guitarra que é ao mesmo tempo sombrio e esperançoso, criando uma dualidade que permeia toda a música. As letras abordam temas de isolamento e luta interna, com Campbell cantando sobre a sensação de estar preso em sua própria mente. A composição da música é complexa, com mudanças dinâmicas que mantêm o ouvinte em um estado de suspense e antecipação. Os solos de guitarra e a seção rítmica trabalham juntos para criar uma sensação de desespero crescente, culminando em um final catártico.

O disco segue com dois grandes momentos em sequência: primeiro, "Signals", uma faixa que se destaca pela sua sutileza e uso do espaço. A música começa de maneira suave, com uma linha de guitarra limpa e um baixo pulsante que criam uma base sobre a qual os vocais de Campbell flutuam. A letra reflete sobre os sinais e comunicações que recebemos e enviamos em momentos de crise pessoal. A música constrói lentamente, introduzindo elementos de distorção e peso que se entrelaçam com as melodias mais suaves. Esta faixa exemplifica a habilidade da PALLBEARER em equilibrar o som pesado do doom metal com uma sensibilidade mais delicada e emocional.

Depois, "Endless Place", uma peça com duração de quase onze minutos. A música explora temas de isolamento e a sensação de estar perdido dentro de si mesmo. Começa com um riff de guitarra sombrio e uma linha de baixo profunda, criando uma base sólida para a narrativa lírica. O solo de saxofone que aparece na segunda metade da música é um destaque, adicionando uma dimensão inesperada e etérea à faixa. As progressões instrumentais são grandiosas, levando o ouvinte através de uma jornada sonora que alterna entre momentos de introspecção tranquila e explosões de intensidade emocional.

"Daybreak" é talvez a faixa mais dinâmica do álbum. Começa de forma silenciosa e esparsa, com uma melodia de guitarra delicada e vocais introspectivos. As letras falam de aceitação e resignação diante da dor e perda, evocando uma sensação de melancolia profunda. À medida que a música avança, camadas de distorção e peso são adicionadas, criando um contraste poderoso com o início mais suave. Este contraste destaca a habilidade da banda em criar composições que são tanto emocionalmente impactantes quanto musicalmente complexas.

A faixa final, "With Disease", é um exemplo clássico da PALLBEARER em sua essência. Com 10 minutos de duração, a faixa poderia facilmente se estender por uma hora sem perder seu impacto. É uma música envolvente, com refrãos cativantes e letras emotivas. Os solos de guitarra assumem a narrativa tendo a companhia do baixo profundo, transformando a música em uma experiência de tirar o fôlego. As letras abordam temas de desespero e luta interna, com Campbell cantando sobre a sensação de ser consumido pela doença. A segunda metade da música é dominada por solos de guitarra intensos e uma seção rítmica poderosa, culminando em um final catártico que deixa o ouvinte em um estado de reflexão profunda.

“Mind Burns Alive” é um profundo, com várias camadas, combinando as marcas registradas tradicionais da banda com uma nova suavidade mais eloquente. Esta adição à discografia distintiva da banda certamente evocará algo novo e reflexivo nos ouvintes. Revisitando uma discussão comum nos círculos do metal dos anos 90, sobre bandas que mudam drasticamente de estilo, a PALLBEARER mostra que não é mais tão complicado aceitar essas mudanças. Provavelmente a grande maioria dos fãs, outrora dividida, deverão concordar que “Mind Burns Alive” é um dos melhores trabalhos da banda até agora.

 

 

VEREDITO

Ouvir “Mind Burns Alive” da PALLBEARER é uma jornada através de paisagens inatingíveis e sonoridades complexas, uma experiência que desafia e recompensa em igual medida. Este álbum representa uma evolução significativa para a banda, explorando novos territórios melódicos e temáticos sem abandonar as raízes que os tornaram queridos entre os fãs de doom metal. Desde a abertura com "Where the Light Fades" até o final avassalador com "With Disease", o quarteto apresenta uma obra que equilibra peso emocional e intensidade musical com uma precisão rara.

A banda se destaca ao criar uma atmosfera que é ao mesmo tempo frágil e poderosa, usando harmonias dissonantes e riffs intricados para construir um som que é distintamente seu. Cada faixa de “Mind Burns Alive” é cuidadosamente composta, com uma direção clara e um propósito definido, demonstrando uma maturidade e competência que solidificam a PALLBEARER como um dos grandes nomes do gênero.

O álbum aborda temas profundos de solidão, desespero e a luta inerente à condição humana, convidando o ouvinte a uma reflexão introspectiva. As letras de Brett Campbell são particularmente impactantes, oferecendo um vislumbre cru e honesto das emoções que permeiam cada canção. A decisão deliberada da banda de evitar a brutalidade em favor de uma abordagem mais sutil e emocionalmente carregada resulta em uma experiência auditiva que é tanto comovente quanto devastadora.“Mind Burns Alive” não é apenas um álbum de doom metal; é uma exploração artística de emoções humanas universais. A capacidade da PALLBEARER de transformar dor e desespero em beleza sonora é uma prova de sua habilidade como músicos e compositores. Este álbum, com suas camadas de complexidade e profundidade, se destaca não apenas pela sua musicalidade, mas também pela sua honestidade emocional.

Ao final de “Mind Burns Alive”, o ouvinte é deixado não apenas com uma apreciação renovada pelo talento da banda, mas também com uma sensação de catarse e compreensão. A banda conseguiu criar uma obra que não apenas honra suas raízes no doom metal, mas também amplia os horizontes do que o gênero pode alcançar. Em suma, “Mind Burns Alive” é uma obra-prima moderna que seguramente será lembrada como um ponto alto na carreira da PALLBEARER e um clássico no gênero do doom metal atual.

 

(Daniel Aghehost)

 

9.0/10

 

 

TRACK LIST

1. Where the Light Fades

2. Mind Burns Alive

3. Signals

4. Endless Place

5. Daybreak

6. With Disease

 

 

 

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